MENSAGEM

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quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Brilho da Morte: Césio 137 e suas vítimas



O acidente radioativo aconteceu em 13 de Setembro de 1987 em Goiania, estado de Goiás. A contaminação ocorreu após um aparelho radioativo abandonado ser encontrado e desmontado. O caso marcou nossa história por ser o mais chocante acidente radioativo no Brasil. Confira nesta reportagem especial todos os detalhes desta terrível história da luta contra a morte.

O Instituto Goiano de Radioterapia (IGR) - localizado na Avenida Paranaíba, centro de Goiania - foi transferido para um novo endereço em 1985. Desde então, tudo o que estava no prédio permaneceu lá, se deteriorando, dentre eles, um aparelho de radioterapia.

Em 1987, Wagner e Roberto vasculharam o interior do edifício onde funcionava o IGR e encontraram o tal aparelho. Resolveram então tentar desmontar e retirar uma peça que pesava em torno de 200 kg. Na hora do desmonte, perceberam que de dentro do tal cilindro, saíra uma pequena quantidade de uma substância muito parecida com o sal de cozinha. Não deram muita atenção e venderam a peça para Devair Ferreira, dono de um ferro velho localizado na Rua 26-A.

No ferro velho de Devair, o cilindro que na verdade era uma cápsula de Césio 137, foi desmontada por inteiro para o aproveitamento do chumbo. Nesse instante, cerca de 19,26g do material foram expostas ao ar livre.

À noite, andando pelo interior de seu estabelecimento, Devair percebeu uma luz azul muito forte vindo da estante onde a cápsula fora deixada. Ele foi até lá e ficou impressionado com o que viu. Aquele pó brilhante encantou Devair, que de tão espantado e alegre ao mesmo tempo resolveu mostrar para sua esposa, Maria Gabriela, a sua mais nova descoberta.

O material ficou guardado agora na casa de Devair, mal sabia ele que a morte estava bem ali ao lado dele. Maria Gabriela mostra o pó para sua amiga Santana e para seus familiares, e assim todos foram contaminados. O irmão de Devair, Ivo Ferreira leva uma pequena quantidade do material para casa e dá para sua filha Leide das Neves Ferreira, de 6 anos, que acaba ingerindo parte do pó com pão.

Outro irmão de Devair, Odesson Alves Ferreira tem contato com o césio. Ele é motorista de ônibus e transportava na época cerca de 1000 pessoas por dia.

Após alguns dias, toda a família de Devair começa a ficar doente (vômitos, náuseas, diarreia e tonturas). Maria Gabriela desconfia que tudo isso esteja acontecendo por culpa daquele estranho aparelho. Ela junto com um dos funcionários do ferro velho leva a peça até a Vigilância Sanitária. Lá, o aparelho é guardado em local inapropriado, sobre uma cadeira. Os funcionários curiosos resolvem mexer no aparelho, assim entrando para o grupo dos infectados pelo Césio 137. Médicos do Hospital de Doenças Tropicais também desconfiam do aparelho e resolvem chamar um físico para investigar o caso.

O físico consegue com sucesso impedir que o aparelho seja jogado em um rio próximo ao prédio da Vigilância Sanitária. Ele deu o alerta e técnicos da Comissão Nacional de Energia Nuclear chegam à cidade. A rua 57 é interditada.

Nos dias seguintes centenas de pessoas são levadas até o Estádio Olímpico da cidade para uma triagem. De um grupo de 249 pessoas, 120 foram descontaminadas com sucesso e 129 continuaram monitoradas. Deste grupo, 79 tinham contaminação externa e 14 estavam em um estado bem mais critico, dentre eles estavam Maria Gabriela e a garota Leide. Foram transferidos para um hospital especializado localizado no Rio de Janeiro.

Durante a descontaminação da área, mais um erro cometido: Policiais, bombeiros e agentes são enviados sem nenhuma proteção e sem saber do que estava acontecendo. A única informação que tinham era que se tratava de um vazamento de gás. Muitos deles foram contaminados e até hoje sofrem com doenças decorrentes do contato com o material.

Pertences de moradores como roupas, jóias, brinquedos, estofados e até animais, foram recolhidos e destruídos e armazenados em um terreno a céu aberto. Algum tempo depois, foram aterrados na cidade de Abadia de Goiás.

Dia 23 de outubro: Leide das Neves não resiste e acaba falecendo em decorrência da contaminação. No mesmo dia, sua tia Maria Gabriela também morre. Durante o enterro, cerca de 2000 moradores tentaram impedir o enterro já que temiam que o solo fosse contaminado pela radiação presente no corpo das vítimas. Tia e sobrinha acabaram enterradas em caixões de chumbo com 700 kg cada um.

No dia 28, morrem as outras duas vítimas fatais do césio. Israel Batista, de 22 anos, e Adimilson Alves, de 17 anos, ambos funcionários do ferro velho de Devair, que após o acidente se tornou alcoólatra e acabou falecendo 7 anos depois.

Números:

·  4 mortos inicialmente
·  60 mortos posteriormente
·  628 pessoas contaminadas reconhecidas pelo Ministério Público, entre elas bombeiros, policiais, moradores e agentes sanitários.

Vale lembrar que apesar de hoje sofrerem com diversas doenças e até mesmo, em alguns casos, com câncer, essas pessoas sofrem muito mais com o preconceito de quais são vítimas. Desde 1987, elas não oferecem mais nenhum risco a sociedade, portanto merecem ser tratadas normalmente. Não há o que temer.

Reportagem de Arthur Vieira

Informações do Greenpeace e da Wikipédia.

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