O acidente radioativo
aconteceu em 13 de Setembro de 1987 em Goiania, estado de Goiás. A contaminação
ocorreu após um aparelho radioativo abandonado ser encontrado e desmontado. O
caso marcou nossa história por ser o mais chocante acidente radioativo no
Brasil. Confira nesta reportagem especial todos os detalhes desta terrível
história da luta contra a morte.
O Instituto Goiano de
Radioterapia (IGR) - localizado na Avenida Paranaíba, centro de Goiania - foi
transferido para um novo endereço em 1985. Desde então, tudo o que estava no
prédio permaneceu lá, se deteriorando, dentre eles, um aparelho de
radioterapia.
Em 1987, Wagner e Roberto vasculharam o interior do edifício onde
funcionava o IGR e encontraram o tal aparelho. Resolveram então tentar
desmontar e retirar uma peça que pesava em torno de 200 kg. Na hora do
desmonte, perceberam que de dentro do tal cilindro, saíra uma pequena
quantidade de uma substância muito parecida com o sal de cozinha. Não deram
muita atenção e venderam a peça para Devair
Ferreira, dono de um ferro velho localizado na Rua 26-A.
No ferro velho de
Devair, o cilindro que na verdade era uma cápsula de Césio 137, foi
desmontada por inteiro para o aproveitamento do chumbo. Nesse instante, cerca
de 19,26g do material foram expostas ao ar livre.
À noite, andando pelo
interior de seu estabelecimento, Devair percebeu uma luz azul muito forte vindo
da estante onde a cápsula fora deixada. Ele foi até lá e ficou
impressionado com o que viu. Aquele pó brilhante encantou Devair, que de tão
espantado e alegre ao mesmo tempo resolveu mostrar para sua esposa, Maria Gabriela, a sua mais nova
descoberta.
O material ficou
guardado agora na casa de Devair, mal sabia ele que a morte estava bem ali ao
lado dele. Maria Gabriela mostra o pó para sua amiga Santana e para seus
familiares, e assim todos foram contaminados. O irmão de Devair, Ivo Ferreira leva uma pequena
quantidade do material para casa e dá para sua filha Leide das Neves Ferreira, de 6 anos, que acaba ingerindo parte do
pó com pão.
Outro irmão de
Devair, Odesson Alves Ferreira tem
contato com o césio. Ele é motorista de ônibus e transportava na época cerca de
1000 pessoas por dia.
Após alguns dias,
toda a família de Devair começa a ficar doente (vômitos, náuseas, diarreia e
tonturas). Maria Gabriela desconfia que tudo isso esteja acontecendo por culpa
daquele estranho aparelho. Ela junto com um dos funcionários do ferro velho
leva a peça até a Vigilância Sanitária. Lá, o aparelho é guardado em local
inapropriado, sobre uma cadeira. Os funcionários curiosos resolvem mexer no
aparelho, assim entrando para o grupo dos infectados pelo Césio 137. Médicos do
Hospital de Doenças Tropicais também desconfiam do aparelho e resolvem chamar
um físico para investigar o caso.
O físico consegue com
sucesso impedir que o aparelho seja jogado em um rio próximo ao prédio da
Vigilância Sanitária. Ele deu o alerta e técnicos da Comissão Nacional de
Energia Nuclear chegam à cidade. A rua 57 é interditada.
Nos dias seguintes
centenas de pessoas são levadas até o Estádio Olímpico da cidade para uma
triagem. De um grupo de 249 pessoas, 120 foram descontaminadas com sucesso e
129 continuaram monitoradas. Deste grupo, 79 tinham contaminação externa e 14
estavam em um estado bem mais critico, dentre eles estavam Maria Gabriela e a
garota Leide. Foram transferidos para um hospital especializado localizado no
Rio de Janeiro.
Durante a
descontaminação da área, mais um erro cometido: Policiais, bombeiros e agentes
são enviados sem nenhuma proteção e sem saber do que estava acontecendo. A
única informação que tinham era que se tratava de um vazamento de gás. Muitos
deles foram contaminados e até hoje sofrem com doenças decorrentes do contato
com o material.
Pertences de
moradores como roupas, jóias, brinquedos, estofados e até animais, foram
recolhidos e destruídos e armazenados em um terreno a céu aberto. Algum tempo
depois, foram aterrados na cidade de Abadia de Goiás.
Dia 23 de outubro:
Leide das Neves não resiste e acaba falecendo em decorrência da
contaminação. No mesmo dia, sua tia Maria Gabriela também morre. Durante o
enterro, cerca de 2000 moradores tentaram impedir o enterro já que temiam que o
solo fosse contaminado pela radiação presente no corpo das vítimas. Tia e
sobrinha acabaram enterradas em caixões de chumbo com 700 kg cada um.
No dia 28, morrem as
outras duas vítimas fatais do césio. Israel Batista, de 22 anos, e Adimilson
Alves, de 17 anos, ambos funcionários do ferro velho de Devair, que após o
acidente se tornou alcoólatra e acabou falecendo 7 anos depois.
Números:
· 4 mortos inicialmente
· 60 mortos
posteriormente
· 628 pessoas
contaminadas reconhecidas pelo Ministério Público, entre elas bombeiros,
policiais, moradores e agentes sanitários.
Vale lembrar que
apesar de hoje sofrerem com diversas doenças e até mesmo, em alguns casos, com
câncer, essas pessoas sofrem muito mais com o preconceito de quais são vítimas.
Desde 1987, elas não oferecem mais nenhum risco a sociedade, portanto merecem
ser tratadas normalmente. Não há o que temer.
Reportagem
de Arthur Vieira
Informações do Greenpeace e da Wikipédia.